NÃO ME ARREPENDO DE NADA?



Eu já era grandinho, já tinha uns 4 anos de idade. Estava brincando no parquinho do hotel Vila do Mar, na Via Costeira de Natal, sozinho. Então chegou aquele menino, bem mais novo que eu... talvez uns 2 anos de idade. Se aproximou, me olhou, mas não disse nada. Nem sei se já sabia falar. Não liguei, continuei brincando. Não o conhecia, nem estava a fim de conhecer. Mas ele ficou me acompanhando, me seguindo, me olhando. Tudo o que eu fizesse, ele fazia, todo brinquedo que eu brincasse, ele brincava. Se eu me sentasse no balanço, ele sentava no outro, se eu corresse, ele corria, se eu pulasse, ele pulava. Por alguma razão sombria, comecei a sentir raiva daquela criança inocente e maquinei o mal contra ela. Aquele parquinho tinha uma casinha, e um dos acessos ao seu interior era por meio de uma escada vertical. Eu sabia que aquele menino jamais conseguiria subir por ali. Ele era pequeno demais. Subi. Aquela criança ficou olhando a escada por uns instantes, talvez calculando se era possível subir. Talvez tenha achado que subindo por aquela escada, teria acesso não somente à casinha, mas à minha amizade. E se desistisse, perderia de uma vez por todas um possível novo amiguinho. Ele tentou... e caiu. Eu fiquei só observando. Nem me aproximei quando ele começou a chorar. A minha mãe, que estava alí por perto, veio correndo ao ouvir os gritos do menino. Colocou-o nos braços, verificou se estava fisicamente bem, e começou a tentar fazê-lo se acalmar. Foi agradável com ele, conversou com ele e cantou para ele até que ele parou de chorar. Em seguida, sua mãe apareceu, o recebeu dos braços da minha mãe, e o levou para longe dali. Foi a primeira grande lição da minha mãe. Assim como eu, ela nunca o tinha visto na vida, mas a sua atitude foi oposta. Ela fez o bem a um desconhecido, sem motivo, e eu fiz o mal. Foi um crime perfeito, nunca fui descoberto, nunca fui punido, afinal, nem toquei nele. Contudo, mesmo após 25 anos, a imagem desse bebê chorando nos braços da minha mãe me assombra até hoje. Como eu pude ser tão mal? Como eu pude ser tão cruel? Ele só queria brincar comigo. Só queria ser meu amigo.


Eu não entendo esse clichê de hoje em dia. Todo mundo enche a boca pra dizer "eu não me arrependo de nada". Como se arrependimento fosse sinal de fraqueza. A força não está em não se arrepender. A força está em reconhecer seus erros e lidar com as consequências. Está também em saber mudar sua conduta para não repetir erros do passado. Claro que a cada erro, nós crescemos, aprendemos, amadurecemos, nos tornamos pessoas melhores. Se eu não tivesse feito tudo o que fiz, nem passado tudo o que passei, eu não seria quem eu sou hoje. Eu me arrependo de todo o mal que já fiz. Se eu pudesse voltar atrás, mudaria muita coisa. Mas não posso. E isso faz de mim quem eu sou hoje. Tento fazer o bem a todos, e viver em paz com todos. Não tenho inimigos. Não vou dizer que sou uma pessoa boa. Ninguém é. Mas luto comigo mesmo todos os dias para ser. Talvez eu esteja tentando compensar o mal que já fiz, mas nada compensa. Nunca vou compensar o mal que fiz àquela criancinha no parquinho do Vila do Mar, mas é certo que estou arrependido. Se eu pudesse voltar, não faria aquilo. Mas se sou uma pessoa um pouco melhor hoje, é porque eu fiz. E é porque me arrependi.



Leonardo Mendonça

SE FOR POSSÍVEL, ENCONTRAREI UM MEIO. SE NÃO FOR, ENCONTRAREI OUTRO

Postagem incorporada do meu instagram. Sigam, @LeoMendonca e sejam bem-vindos!!

Escrevi esse texto ano passado. Então esses fatos ocorreram há 4 anos. O livro que escrevi sobre isso já está na editora, aguardando publicação. E já estou fazendo consultorias a quem quer passar em concursos. ** Há 3 anos, conforme o Facebook me faz lembrar, foi o meu dia do desespero. O dia em que fui fazer um concurso em João Pessoa, e, mesmo considerando que havia estudado bastante, olhava a prova e não entendia nada, não sabia responder absolutamente nada. Foi a gota d'água, foi o ápice do desespero, foi quando me vi completamente sem rumo, sem chão, sem saída, sem futuro. Foi quando eu tive certeza que jamais passaria em qualquer concurso. Que eu não tinha capacidade de disputar qualquer cargo. Tive que tomar uma das decisões mais difíceis da minha vida. Desistir era a resposta óbvia, mas resolvi persistir. Só que seria necessário mudar totalmente a estratégia. Eu percebi que fazendo igual a todo mundo, eu não conseguiria nunca. Meus concorrentes eram muito mais inteligentes e bem preparados. Eu não tinha nenhum diferencial, não era mais inteligente que ninguém, tinha uma memória incrivelmente ruim e não tinha uma boa bagagem de estudos, então jamais conseguiria vencer lutando com as mesmas armas. Resolvi fabricar meu próprio diferencial. Forçar minha aprovação. Virei um estrategista. Elaborei meu próprio método de estudo otimizado, objetivo, focado no resultado. Esse resultado veio muito antes do esperado. Em incríveis duas semanas conquistei a 19 colocação no concurso de oficial de justiça Federal. Em 3 meses alcancei a aprovação para delegado de polícia civil. Passei na frente de pessoas muito mais inteligentes, bem preparadas, com muito mais experiência e conhecimento. Eles sabiam muito mais do conteúdo que eu, mas eu sabia responder a prova da mesma forma que eles. É possível vencer. Concurso público não é somente para os gênios. Você só não pode insistir em usar as mesmas armas que eles, pois eles são fenômenos, serão logo aprovados e você irá para o rabo da fila, atrás de todo mundo. Se você não tem nenhum diferencial, como eu, fabrique o seu. Fure a fila. Vencer num concurso público não é uma questão de conhecimento, é uma questão de estratégia.
Uma foto publicada por Leonardo Mendonça (@leomendonca) em

O DIA DO DESESPERO

Resultado de imagem para desespero
O dia 02/09/2012 foi o meu "dia do desespero". Foi o dia que caiu a minha ficha de que eu jamais seria capaz de passar num concurso público. Data da prova para procurador do município de João Pessoa. Eu pensei que tivesse estudado. Pensei que pudesse ser capaz de acertar algumas questões. Não. Eu não sabia absolutamente nada. A prova estava em grego. Eu não consegui responder nada, nem terminei a prova. Devolvi ao fiscal, humilhado. Peguei meu carro, e vim embora para Natal. Totalmente sem chão. Chorei, gritei e esperneei no caminho. Desesperado. Descobri que nunca passaria em nenhum concurso. Descobri que não tinha capacidade. Descobri que teria que abrir mão de um sonho. Era impossível.

Após os primeiros 100km, as lágrimas se esgotaram, e precisei replanejar minha vida. E agora? Advogar? Eu detestava advogar. Mas talvez fosse a única saída. Mais algumas dezenas de kms, a decisão estava tomada. Eu vou persistir. Mas era lógico que eu não poderia continuar estudando da mesma maneira e esperar um resultado diferente. Não sou igual a esses gênios que costumam passar nesses concursos. Não posso estudar igual a eles. Eu precisava de um diferencial. Dar um jeito de me colocar entre eles. De me colocar acima da média pela força do meu próprio braço. Me tornei um estrategista. Sentei, pensei, pesquisei. Como tornar possível minha aprovação nas minhas condições? Descobri que o planejamento estratégico é muito mais importante que o mero acúmulo de conhecimento. Em duas semanas de estudo estrategicamente otimizado, passei para Oficial de Justiça Federal. Em três meses, Delegado de Polícia Civil. E mais um punhado de conquistas igualmente impressionantes. O cara que se descobriu incapaz foi capaz de derrubar gigantes. Vencer pessoas muito mais inteligentes, muito mais experientes, e com muito mais conhecimento. Não é tarefa fácil. É difícil. Na verdade, é impossível. Mas eu fiz.

O dia 02/09/2012 foi o dia do desespero. Mas tb foi o dia da esperança.

Escrevi meu livro sobre essas estratégias, e em breve estará sendo vendido nesta página. Encaminhei à editora essa semana, espero que não demore a sair. 

Estou me formando em coaching e já estou fazendo consultorias para quem quer passar em concursos. Interessados podem entrar em contato pelo whatsapp (84) 99459-7997.

COMO FAZER O SOCIALISMO DAR CERTO


Eu nunca tive o menor interesse pela política. Na escola, como a maioria dos brasileiros, fui doutrinado a ser de esquerda. Os livros e professores eram todos esquerdistas, e assim aprendi. Sempre pensei, portanto, ser de esquerda, embora nunca tenha elaborado nenhum pensamento crítico a respeito por puro desinteresse. Aprendi o quanto o capitalismo é opressor, e como o comunismo é lindo e ideal, mas difícil de se alcançar, porque a poderosa e malvada burguesia não deixa. Mas para falar a verdade, os ensinamentos da escola nunca fizeram muito sentido.
Quando esse professor específico (que foi meu professor de história na oitava série e no segundo ano) queria falar sobre socialismo e comunismo, ele usava sempre um mesmo exemplo: “se você tem duas bicicletas e seu colega não tem nenhuma, eles tomam uma das suas bicicletas e dão a quem não tem nenhuma”. Eu ficava indignado. – Como assim eles tomam uma das minhas bicicletas? Isso é roubo! Eles não podem fazer isso! Se eu comprei duas bicicletas, é porque eu preciso de duas bicicletas! Eu trabalhei e conquistei com meu suor o direito de ter duas bicicletas, e eles vem criminosamente me roubar uma? Isso é um absurdo! – O que eu não entendo até hoje é que esse professor dava sempre esse mesmo exemplo e o vendia como algo positivo. Como isso pode ser positivo? Tudo bem que seja louvável o ato de doar uma bicicleta a uma pessoa que não tenha nenhuma, mas certamente haverá outro meio de praticar essa boa ação sem precisar roubar um cidadão de bem que não tem nada a ver com isso.
Embora esses questionamentos se levantassem, eu pouco me interessava pelo assunto. Tinha mais o que fazer. Tinha coisas mais interessantes a pensar e me preocupar. Queria somente aprender o que estavam ensinando, responder corretamente nas provas e passar por média. Enquanto ninguém viesse roubar minhas bicicletas, estava tudo bem.
Cresci, me formei, comecei a trabalhar, casei, e meu interesse por assuntos políticos continuava zerado. Sabia que estava sendo roubado pela corrupção da classe política, mas preferia não pensar no assunto, pois pensar causa revolta, que aliada a sensação de impotência, geram tristeza. E isso não faz bem à saúde mental. Então buscava seguir minha vida fazendo minha parte, estudando e trabalhando nas minhas áreas de interesse.
Lula chegou à presidência (com meu voto), e tudo parecia maravilhoso. Brasil no auge, economia lá em cima, as coisas melhorando. Realmente a esquerda estava certa. Em seguida, assumiu a Dilma (com meu voto), mas seu primeiro mandato foi um desastre. Percebi que ela era desinteligente demais para um cargo daquela importância, e concluí que, por culpa dela e de sua incompetência, o Brasil havia decaído. Não por culpa do pensamento esquerdista em si, pois com Lula, tudo havia dado certo. Para o segundo mandato, não me senti seguro para votar nela. Não podia votar numa pessoa que já havia provado que não tinha a menor capacidade para dirigir o país. O problema é que o outro candidato era o Aécio. Dispensa comentários. Mas eu havia passado no concurso público para Delegado de Polícia em outro estado, não havia transferido meu título, e trabalhei nos dias das eleições, então apenas justifiquei meu voto, sem peso na consciência. Não havia nenhum candidato sério que merecesse meu voto.
Aconteceu que logo após, veio uma queda vertical desenfreada. Estupidez atrás de estupidez, escândalo atrás de escândalo, e o Brasil chegou ao fundo do poço. A festa da roubalheira estava latente, me chamando de palhaço. Não dava mais para ignorar o assunto, cheguei ao limite da minha paciência. Eu queria agora descobrir, afinal, o que é que estava acontecendo.
Passei a ler e me interessar. Não sou ainda nenhuma autoridade para explicar aos leitores a situação política e econômica do Brasil, e nem é esse o objetivo deste artigo, mas aprendi o suficiente para descobrir que eu não sou de esquerda. Descobri que fui enganado a vida toda, e que aprendi tudo errado. Parcela dessa culpa é minha, pois nunca havia tido interesse em pesquisar para gerar um pensamento crítico e produzir minha própria opinião. Acreditar no que diziam era mais fácil. Eu só não esperava que a esquerda usasse um golpe tão baixo para tal. Mentir descaradamente, repetidamente, insistentemente até aquilo se tornar verdade, para manipular a opinião das massas, da manada, daqueles que não pensam (como eu mesmo não pensava). Doutrinando desde criancinhas, para que cresçam sem cérebro. Minha sorte é que desenvolvi meu pensamento crítico em outras áreas, e pude importar para gerar e desenvolver meu próprio entendimento político, embora tardiamente. Descobri que sou de direita. Sempre fui, e não sabia.
Mas há uma forma de o socialismo dar certo.
Há muito sou um independente estudioso das escrituras sagradas do cristianismo, cuja divindade me fascina profundamente. Mas não se preocupe, este não é um texto religioso. O que venho dizer é que o livro de Atos dos Apóstolos, de provável autoria do evangelista Lucas (ou São Lucas), descreve o nascimento e desenvolvimento de uma comunidade de caráter claramente socialista, que funcionou muito bem, ao menos, temporariamente.
O primeiro capítulo do livro conta, que após a ressurreição de Jesus, pouco antes de ascender aos céus, ele estava reunido com os discípulos em Jerusalém quando lhes determinou que não saíssem da cidade até que, dentro de poucos dias, o próprio Deus os batizasse com o Espírito Santo, e que, após isso, deveriam sair por todo o mundo e dar testemunho de tudo o que viram e aprenderam dele. Tal fato considera-se ocorrido no chamado dia de pentecostes (quinquagésimo dia após o sábado da semana da páscoa, também chamado de festa da colheita), mas ao contrário da recomendação, todos permaneceram em Jerusalém, onde formaram uma comunidade cristã hoje conhecida como igreja primitiva.
Eles se dedicavam ao ensino dos apóstolos e à comunhão, ao partir do pão e às orações. Todos estavam cheios de temor, e muitas maravilhas e sinais eram feitos pelos apóstolos. Todos os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum. Vendendo suas propriedades e bens, distribuíam a cada um conforme a sua necessidade. Todos os dias, continuavam a reunir-se no pátio do templo. Partiam o pão em suas casas, e juntos participavam das refeições, com alegria e sinceridade de coração, louvando a Deus e tendo a simpatia de todo o povo. E o Senhor lhes acrescentava todos os dias os que iam sendo salvos. (Atos 2:42-47)
Da multidão dos que creram, uma era a mente e um o coração. Ninguém considerava unicamente sua coisa alguma que possuísse, mas compartilhavam tudo o que tinham. Com grande poder os apóstolos continuavam a testemunhar da ressurreição do Senhor Jesus, e grandiosa graça estava sobre todos eles. Não havia pessoas necessitadas entre eles, pois os que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro da venda e o colocavam aos pés dos apóstolos, que o distribuíam segundo a necessidade de cada um. (Atos 4:32-35)
Estamos falando de pessoas que foram testemunhas oculares dos eventos que envolvem a vida e obra de Jesus, e alguns que com ele conviveram diariamente, e dele receberam diretamente seu conhecimento e ensino, aprendendo seus princípios e valores. Em suma, o ensino desse homem fantástico se fundamenta no amor ao próximo, em concentrar suas preocupações na prática do bem, priorizando suprir as necessidades dos necessitados, adquirindo assim riquezas imateriais, preferíveis sobre as riquezas materiais, que ficam em segundo plano.
O que a igreja primitiva fez, portanto, foi aplicar ao convívio social os princípios altruístas que aprenderam de seu Mestre. Acontece que a ordem não era essa. Jesus não disse que permanecessem em Jerusalém e fundassem uma comunidade socialista ou comunista. Ele disse que ficassem em Jerusalém somente até o batismo do Espírito Santo, e que após isso, se espalhassem pelo mundo anunciando e ensinando aqueles princípios. Como a dispersão não acontecia por bem, ela ocorreu por mal. A igreja em Jerusalém começou a sofrer violenta perseguição, forçando seus membros a se dispersarem por outras regiões, anunciando sua fé por onde passavam, dissolvendo aquela comunidade.
Assim, temos um exemplo de uma comunidade socialista, ou até comunista, que funcionou muito bem, embora por pouco tempo. E dela podemos extrair algumas considerações.
Observe que os ensinamentos de Cristo nunca foram direcionados à aplicação coletiva. Eram direcionados a aplicação individual. Ele ensinava que você, como indivíduo, para elevar-se espiritualmente, e ascender a uma condição de filho de Deus, deve arrepender-se de seus maus caminhos, e de suas más ações, converter-se a um caminho do bem, de praticar boas ações ao seu próximo, suprir as necessidades do necessitado, alimentar o faminto, dar de beber ao sedento, cuidar dos pobres e das viúvas, ainda que em detrimento de seus bens materiais, que nenhum valor têm, frente aos valores imateriais e espirituais que se adquire pela prática do amor e da caridade. Não importa se as pessoas a sua volta sejam perversas ou se você vive numa sociedade totalmente corrupta e má, desde que você, individualmente, não se corrompa, e siga plenamente aqueles ensinamentos. Não cabe a você impor esse modo de vida benevolente a ninguém, se seu próximo é materialista e mau, e assim quer permanecer, é uma escolha e um direito dele. A pregação não era sobre a salvação da sociedade nem do Estado, mas do indivíduo.
O que aconteceu com a igreja primitiva foi que milhares de indivíduos recém impactados com a grandeza desses ensinamentos, converteram-se de seus maus caminhos, e passaram a buscar viver seguindo os princípios do amor e da caridade, em comunhão uns com os outros, aplicando VOLUNTARIAMENTE esses valores uns aos outros em sociedade, formando, inconscientemente, e temporariamente, uma sociedade comunista ideal.
De maneira levianamente oposta, o pensamento esquerdista atual luta para impor esse sistema fundado na força e na opressão. Não pode prosperar um sistema que arranca a propriedade de quem a possui legitimamente, contra a sua vontade, distribui pequena parte dessa riqueza a quem nada fez para ganhar, e entrega grande parte para alimentar o Estado para que se mantenha forte o bastante para ser capaz de arrancar os bens de quem quiser sem que ninguém possa se opor. Pune-se e expropria-se de seus bens aquele que produz riqueza, premia-se quem produz pouco ou nada. Quem produz, desestimula-se e deixa de produzir. Quem não produz, mantém-se improdutivo. Se a produção diminui, a opressão aumenta. Para que ninguém se oponha, desarma-se e deseduca-se a população, e a doutrina com mentiras desde a infância, para que cresça sem a capacidade de pensar e questionar, acreditando em toda mentira que lhes contam. Para não ter acesso à verdade, restringe-se a liberdade de imprensa, comunicação, locomoção. Muros são construídos. A qualidade de vida despenca, o dinheiro acaba, a mortalidade aumenta, a fome chega, o desespero bate. Um caos. Deus livre o Brasil desse inferno.
Para que o socialismo tenha chance de funcionar, ele precisa ser fundamentado, antes de tudo, na voluntariedade e no amor. Não na força, na opressão, na desinformação, no medo. Na igreja primitiva, as pessoas entregavam voluntariamente tudo o que tinham ao poder central, os apóstolos, homens bons e honestos, que distribuíam igualmente a todos, conforme suas necessidades. Ainda assim, não é provável que se sustentasse por muito tempo. É um sistema ideal, e precisa de condições ideais para se manter. Seria necessário que todos se mantivessem constantemente em unidade de pensamento, em amor, bondade, caridade, altruísmo, e total desprendimento dos bens materiais. E isso não é uma condição normal entre os seres humanos, falhos, instáveis, corruptíveis. Em algum momento algo daria errado. O próprio livro de Atos dos Apóstolos relata o momento em que isso aconteceu.
Um homem chamado Ananias, juntamente com Safira, sua mulher, também vendeu uma propriedade. Ele reteve parte do dinheiro para si, sabendo disso também sua mulher; e o restante levou e colocou aos pés dos apóstolos. Então perguntou Pedro: "Ananias, como você permitiu que Satanás enchesse o seu coração, a ponto de você mentir ao Espírito Santo e guardar para si uma parte do dinheiro que recebeu pela propriedade? Ela não lhe pertencia? E, depois de vendida, o dinheiro não estava em seu poder? O que o levou a pensar em fazer tal coisa? Você não mentiu aos homens, mas sim a Deus". Ouvindo isso, Ananias caiu e morreu. Grande temor apoderou-se de todos os que ouviram o que tinha acontecido. Então os moços vieram, envolveram seu corpo, levaram-no para fora e o sepultaram. Cerca de três horas mais tarde, entrou sua mulher, sem saber o que havia acontecido. Pedro lhe perguntou: "Diga-me, foi esse o preço que vocês conseguiram pela propriedade? " Respondeu ela: "Sim, foi esse mesmo". Pedro lhe disse: "Por que vocês entraram em acordo para tentar o Espírito do Senhor? Veja! Estão à porta os pés dos que sepultaram seu marido, e eles a levarão também". Naquele mesmo instante, ela caiu aos pés dele e morreu. Então os moços entraram e, encontrando-a morta, levaram-na e a sepultaram ao lado de seu marido. E grande temor apoderou-se de toda a igreja e de todos os que ouviram falar desses acontecimentos. (Atos 5:1-11)
Duas interpretações eu retiro desse trecho Bíblico. Uma que representa a opinião de um cristão, e uma que representa a opinião de um ateu. Mas em ambas eu chego à mesma conclusão.
Um ateu poderia imaginar que em nada difere esse comunismo cristão de qualquer outro existente. Abstraindo-se da religiosidade do relato, poderia entender que o próprio Apóstolo Pedro, líder da comunidade, em quem se centralizava o poder, arbitrariamente executou o transgressor e sua esposa, pelo simples fato de haverem discordado, em parte, do sistema, e tentado reter para si, pelo menos um pouco do que lhes pertencia antes de entrar no grupo. Com a diferença que a adesão ao grupo era voluntária, e nada os impedia de sair antes de vender qualquer coisa e manter suas posses em sua integralidade. Mas Ananias optou por permanecer no grupo, aderir a suas práticas, mas sonegar em parte, violando seus costumes, desrespeitando seus participantes e seus líderes, e sendo punido com a morte.
Um cristão compreenderia o relato aceitando a sua religiosidade integralmente. Conforme o grupo aumentava, era inevitável que se agregassem indivíduos não compatíveis, não convertidos. Ou até alguém, compatível e convertido, que atravessasse um momento de instabilidade emocional ou espiritual, que o levasse a uma conduta corrompida. Numa comunidade de cunho religioso, seus integrantes creem e aceitam que estão submissos a um poder divino, a quem respondem e prestam contas. Ananias declarou perante Deus uma mentira, e a sustentou perante a igreja, desrespeitando e insultando à própria divindade. Pedro, homem de grande poder, por meio de quem Deus já havia realizado incontáveis prodígios e maravilhas, reconhecido por ser um homem ríspido e impetuoso, ficou inconformado com tamanho sacrilégio, findando na morte súbita do transgressor e de sua esposa, diante de todos.
Quando as pessoas começam a morrer sumariamente por contrariar ou as regras de uma sociedade, levanta-se a questão de aquele modelo ser ou não sustentável. Felizmente, o próprio Deus cuidou de dissipar aquela comunidade cristã comunista, antes que piores exemplos acontecessem, enviando-os por todo o mundo para fazer o que foram chamados para fazer. Serem testemunhas de Cristo, em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra.
Se mesmo entre homens santos o resultado não foi perfeito, imagine entre nós. É possível o socialismo dar certo. Mas não é neste mundo.

Leonardo Mendonça